quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Estigma - Aldo Lins

Estigma

"A minha alma é um grito.
E toda a minha obra é um comentário
sobre esse grito."
(Nikos Kazantzakis)

Acordei chorando
Jorrava de dentro de mim
Toda uma denúncia de tudo aquilo que sou.

Vagabundo, maluco, mendigo, moribundo,
anarquista, amante, poeta e sonhador.

Não me conheço,
Aliás, só por fotografia
Não sou lavoura nem edifício.
Sou um homem que passou fome
Escarrou sangue
E foi preso como anarquista.

Também não sei mais sorrir
A minha pele hoje
É uma tatuagem cheia de escamas.

Até o meu canário fugiu da garganta
Deixando minha alma de vidro
Perdida pelos escombros
Útero da solidão.

Meus trinta anos
O que direi a eles
Quando reinar o eclipse da despedida
Haverei de doar meus olhos
Para alguém poder te ver.

Pois quem sabe um dia
Eu, hóspede da utopia
Assustado com a sombra
Dos meus próprios sonhos
Seja encontrado sem vida
Sentado num cabaré vazio.

Pintura: Edmund Munch (O Grito)

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