quarta-feira, 30 de junho de 2010

EU, A ROSA E A LUA - Aldo Lins.




Sorrindo canto a rosa e a lua
A rosa que foi minha um dia
E que feliz capturou o joão de barro.

A caprichosa rosa, alvorecer
No prélúdio dos raios encantatórios
Acalanta a tão bela e crescente lua.

A lua sem variações de sorrisos
Nas transitórias formas do segredo
Na madrugada fala sonambulas palavras.

Eu, refém do abstrato, ao entardecer
No esplendor dos mares vividos
Faço versos silenciosos do meu grito.

A lua na mágica janela
Com os olhos cristalinos, sem máscaras
Bate-me à porta sem receios.

Sou lual do sertão seco, mas beijo
A lua que é filha dos meus sonhos
E a rosa hoje quase sem perfume.

Este poema escrevi para Luana Karla,
filha de uma ex-namorada, que reside em João Pessoa.

terça-feira, 22 de junho de 2010

EXERCÌCIO ESPIRITUAL

Eu quis me homilhar naquela hora
Fazer de conta que era bem mais pobre
Pra que eles não sofressem com meu brilho
Clareando seus espaços pouco nobres

Mas minha alma não deixou meu corpo
Fazer-se assim tão menos do que era
Arrancou-me das mãos o gesto falso
Curtido no porão das coisas velhas

Ele só quer de mim o brilho certo
Claro, preciso, assumido, inteiro
Sem medo, sem carências, aderências
Alegre como a festa de uma estrela

E ainda pede o riso nessa cena
Está comigo e quem puder entenda.

Janice Japiassu

Carta

Composição: Carlos Drummond de Andrade




Há muito tempo, sim, não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelhecí: olha em relevo
estes sinais em mim, não das carícias




(tão leves) que fazias no meu rosto:
são golpes, são espinhos, são lembranças
da vida a teu menino, que a sol-posto
perde a sabedoria das crianças.



A falta que me fazes não é tanto
à hora de dormir, quando dizias
“Deus te abençoe”, e a noite abria em sonho.



É quando, ao despertar, revejo a um canto
a noite acumulada de meus dias,
e sinto que estou vivo, e que não sonho.