domingo, 8 de novembro de 2015


















SARAU DA BOA VISTA - Recital poético/musical - Idealizado pelo poeta Aldo Lins, aberto para todas as linguagens culturais, e que se realiza todo último Sábado do mês na Rua do Hospício, em frente ao Teatro do Parque.






















POEMA DA BUCETA CABELUDA

A buceta da minha amada
tem pelos barrocos,
lúdicos, profanos.
É faminta
como o polígono-das-secas
e cheia de ritmos
como o recôncavo-baiano.

A buceta da minha amada
é cabeluda
como um tapete persa.
É um buraco-negro
bem no meio do púbis
do Universo.

A buceta da minha amada
é cabeluda,
misteriosa, sonâmbula.
É bela como uma letra grega:
é o alfa-e-ômega dos meus segredos,
é um delta ardente sob os meus dedos
e na minha língua
é lambida.

A buceta da minha amada
é um tesouro
é o Tosão de Ouro
é um tesão.
É cabeluda, e cabe, linda,
em minha mão.

A buceta da minha amada
me aperta dentro, de um tal jeito
que quase me morde;
e só não é mais cabeluda
do que as coisas que ela geme
quando a gente fode.

(Bráulio Tavares)
















Aquele que o meu coração ama
não encontra em lado algum
o incenso que de meus olhos rompe
para ensinar a prender o corpo das mulheres
abandonadas fora de horas
às portas da cidade
mas sabe que para todas as distâncias
há uma ave enlouquecendo que parte
do tempo
e a túnica que dispo entre os seus dedos
é a espada que os reis ungiram
para enfrentar a ameaça das manhãs
em que tudo acorda.

ALICE VIEIRA
in "O QUE DÓI ÀS AVES" (Caminho, 2009)