sábado, 6 de fevereiro de 2016















DEPOIS DA ORGIA

O prazer que na orgia a hetaíra goza
Produz no meu sensorium de bacante
O efeito de uma túnica brilhante
Cobrindo ampla apostema escrofulosa!
  
Troveja! E anelo ter, sôfrega e ansiosa,
O sistema nervoso de um gigante
Para sofrer na minha carne estuante
A dor da força cósmica furiosa.

Apraz-me, enfim, despindo a última alfaia
Que ao comércio dos homens me traz presa,
Livre deste cadeado de peçonha,

Semelhante a um cachorro de atalaia
Às decomposições da Natureza,
Ficar latindo minha dor medonha!

Augusto dos Anjos
















A floresta

Em vão com o mundo da floresta privas!...
- Todas as hermenêuticas sondagens,
Ante o hieróglifo e o enigma das folhagens,
São absolutamente negativas!

Araucárias, traçando arcos de ogivas,
Bracejamentos de álamos selvagens,
Como um convite para estranhas viagens,
Tornam todas as almas pensativas!

Há uma força vencida nesse mundo!
Todo o organismo florestal profundo
É dor viva, trancada num disfarce...

Vivem só, nele, os elementos broncos,
- As ambições que se fizeram troncos,
Porque nunca puderam realizar-se!

Augusto dos Anjos

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016



... A gente cresce para se esquecer de si mesmo.
Mas, um dia a gente se lembra, e quando se
lembra, sente que toda a verdade passa
apenas pelos tempos de criança.
O resto é mentira...

Fonte: http://nassombrasdovento.blogspot.com.br/

















SIMETRIA

Nem toda obra que se imprime
É prima da arte de Aline.
Nem toda a luz de um horizonte
Tem a mesma fonte de Candéas.

Se a poesia corre solta e pula a cerca
Me traz algo acerca de Aline.
Se a poesia corta e fere a alma
Revela a natureza de Candéas.

Se alguém brinca com as palavras
Me anima a pensar Aline.
Se o sonho se perdeu pelas esquinas
A lua brilha com o ouro de Candéas.

Nem toda música tem os acordes
Das asas de Aline.
Nem toda letra tem a métrica
Do sangue de Candéas.

Aldo Lins






Você pode me negar
uma estrela
e a minha expansão
ao infinito,
mas é aí que eu lanço
com mais força
o meu grito.

Carlos Maia