quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Sarau da Boa Vista: cultura, inspiração e resistência no Centro do Recife


Via poraqui


É na calçada de uma das esquinas mais simbólicas para o segmento cultural do Recife que poetas e artistas se reúnem, sempre no último sábado do mês, para expressarem sentimentos, insatisfações ou, simplesmente, contemplar as possíveis linguagens das artes.
Criado em 2013, fruto da iniciativa provocativa do poeta Aldo Lins, o Sarau da Boa Vista acontece na Rua do Hospício, Centro do Recife, e é uma maneira de fomento cultural em um local tão representativo para a classe: em frente ao Teatro do Parque, equipamento fechado desde 2010.

A cada edição um poeta ou poetisa recebe homenagem, o que acarreta em uma rotatividade de público e pensamentos que só vem a somar nesse encontro da música com poesia. “O barato do Sarau da Boa Vista é que sempre se renova, seja por poetas novos, músicos ainda inéditos no Sarau e pelo público diversificado”, diz Aldo.
Com 59 edições realizadas até agora, o Sarau da Boa Vista já recebeu dezenas de poetas, cantores e músicos da região ao longo dos 5 anos de existência e, em setembro, se prepara para uma edição comemorativa e especial.
Boa Vista de resistência e inspiração
Poeta  Aldo Lins


Quando Aldo Lins chegou em Pernambuco não imaginava que, futuramente, estaria à frente de um dos mais duradouros movimentos de resistência cultural do Centrão do Recife.
Ele começou a escrever poesias aos 16 anos, depois de ler as cartas que sua mãe recebia de seu tio exilado e enquanto ouvia os cantadores de viola no rádio em Cajazeiras (PB), sua cidade natal.
Quando saiu da Paraíba, há 26 anos, Aldo se estabeleceu na praia do Janga, em Paulista. Mas foi sua mudança para a Boa Vista que o fez florescer de vez para a poesia e integrar ações artísticas na capital.

Na ocasião do lançamento do seu primeiro livro, Alma de Vidro (2002), Aldo recebeu o convite do poeta José Terra para, junto a outros artistas, realizar o Hospício Poético, movimento literário ocorrido na Rua do Hospício durante o ano de 2004.
Com o fim do Hospício Poético, Aldo passou a organizar uma nova forma de promover a poesia no Centro do Recife. Resultado da sua relação íntima com o bairro e o do incentivo de amigos, o Sarau da Boa Vista ganhou vida e solidez, passando a retratar a “poesia praticada nos bares, nas ruas, nas praças, nos mercados públicos, nas pontes do Recife”.

Seja pela inspiração na boemia da Boa Vista para escrever ou por estar à frente do Sarau, Aldo não imagina viver em outro local que não o bairro que o acolheu há 18 anos.
“Sair da Boa Vista? Nunca pensei nisso. Não me vejo morando em outro lugar que não aqui”, diz em conversa com o canal Coração da Cidade.
Entre os poemas dedicados ao bairro, Aldo escreveu Bandeira da Aurora Mercado da Boa Vista, que podem ser conferidos no blog do autor.

Edição especial e comemorativa



No mês em que o Sarau da Boa Vista realiza sua 60ª edição será lançada uma antologia reunindo poetas que já passaram pelo recital e de outros estados do Brasil.
A Coletânea Sarau da Boa Vista traz, além do próprio Aldo Lins, nomes como Adriana Barbosa, Adriana Perruci, Gilmar Serra, Carlos Maia, Jetro Rocha, Tamires Drielly, Viviane Barros (RJ) e Vlado Lima (SP). E essa grande celebração da cultura independente do Recife já tem data e hora para acontecer: 29 de Setembro de 2018, às 19 h.

Considerado pelos artistas um catalisador de diversas vozes sob o prisma da arte e a benção do Teatro do Parque, o Sarau da Boa Vista é a resistência personificada do gueto artístico, identificado com diversos segmentos sociais.


Para Aldo Lins, um apaixonado pela junção da poesia com o bairro da Boa Vista, o Sarau passou a ser mais que um movimento artístico, mas sua própria força vital. “O Sarau me deu vontade de renascer, de viver”, revela.
Lançamento da Coletânea Sarau da Boa Vista 
Rua do Hospício, em frete ao Teatro do Parque, Boa Vista, Recife – PE
Dia 29 de setembro, sábado,  às 19h
Mais informações: Sarau da Boa Vista no Facebook

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Moral e Cívica II, poema de Alex Polari


Eu me lembro
usava calças curtas e ia ver as paradas
radiante de alegria.
Depois o tempo passou
eu caí em maio
mas em setembro tava pelaí
por esses quartéis
onde sempre havia solenidades cívicas
e o cara que me tinha torturado
horas antes,
o cara que me tinha dependurado
no pau-de-arara
injetado éter no meu saco
me enchido de porrada
e rodado prazeirosamente
a manivela do choque
tava lá – o filho da puta
segurando uma bandeira
e um monte de crianças,
emocionado feito o diabo
com o hino nacional.

Alex Polari

Caetano Veloso - "Coração Vagabundo"

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

VAN CANTIGA A VINCENT, poema de Inaldo Cavalcanti


O vento visita o verde
No olhar maravilhado
De um homem menino.

Eu te vi no vento
- Loucura luminosa
Por um deus esquecida –
Invadir a janela
De um pobre calendário.

Eu te vi no vento
E me lembrei da vida.

Inaldo Cavalcanti

Café Preto + Céu - "Água, Fogo, Terramar"

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

02 HaiKais porno-revolucionários, de Antônio de Pádua


Hai que endurecer, mas
      com ternura aguça
Kai de boca na buça.

*****

           Não confunda
       a água que abunda na roça
com a anágua que              roça
                                    na
                         bunda

Antônio de Pádua

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

terça-feira, 7 de agosto de 2018

IDENTIDADE, poema de Aldo Lins



Aliado do céu por ser azul
Tento caminhar sóbrio
Mesmo sentindo o chacal
Nos meus sensíveis calcanhares.

Tenho cinquenta sonhos publicados
Outros tantos arquivados
Sou um cavaleiro de aquário
Pertenço a uma estrela imaginária.

Entretanto, as minhas asas rastreadas
Não alcançaram o cume das montanhas,
O cheiro da dor cinza pela estrada
Revela a tristeza de minha alma.

Mas sobre tudo ou sobre nada
Há uma calçada onde passeia o rouxinol
E uma varanda abandonada
Onde moro eu o sabiá.

Aldo Lins