quarta-feira, 4 de setembro de 2013





















BALADA PARA JOHN LENNON
Antônio de Campos

As luzes de Nova Iorque ao apagar
de teu coração perderam a cor do filamento
Manhattan uma terra de lágrimas, agora
Mas o pássaro canta: ele apenas dorme

Muitas são as maneiras de se matar um homem,
a morte é que é uma só. Se difícil
madeira e cravos, fácil um buquê de balas.
Mas o pássaro canta ainda: ele apenas dorme.

Quatro balas quentes como a rosa
acesa de Hiroshima, quatro cordas partidas,
quatro punhaladas de chumbo.
Mas o pássaro canta ainda: ele apenas dorme

O inverno chegou mais frio
e a neve sobre o teu corpo é negra
como a pele dos que no Harlem te pranteiam.
Mas o pássaro canta ainda: ele apenas dorme.

Não mais verão teus olhos puros de criança,
parados num pedaço qualquer do céu da cidade
e com a infinita impossibilidade de chorar outra vez.
Mas o pássaro canta ainda: ele apenas dorme.

Por mim irias com aquele terno branco
e um punhado de vento em teus cabelos,
mas isso nada vale pra ressuscitar canções em tua boca.
Mas o pássaro canta mais alto que nunca: ele apenas dorme

                                                                                          

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